Gasto energético estimado pelo método de Calorimetria Indireta.
A manutenção dos processos vitais em seres humanos é condicionada à energia obtida pela oxidação dos macronutrientes presentes nos alimentos ingeridos diariamente (Diener, 1997; Delsoglio et al., 2019). O equilíbrio entre o gasto e o consumo energético promove a homeostase energética (Levine, 2004; Lam e Ravussin, 2016). O gasto energético (GE) pode ser medido/estimado por vários métodos. Neste post, daremos ênfase à calorimetria indireta respiratória.
Breve abordagem sobre o metabolismo energético
A compreensão dos fatores que influenciam o balanço energético é de fundamental importância para o entendimento da regulação do metabolismo. A produção de energia obtida pela oxidação de macronutrientes presentes nos alimentos, na qual há consumo de oxigênio (O2) e produção de dióxido de carbono (CO2), é utilizada para manutenção de várias funções fisiológicas incluindo respiração, circulação, atividade física e manutenção da temperatura corporal (Gupta et al., 2017).
Nos seres humanos, cerca de 90% da energia ingerida é metabolizável (armazenada em moléculas de alta energia conhecidas como trifosfato de adenosina – ATP), sendo o restante eliminado nas fezes, urina ou pele (forma de calor) (Lam e Ravussin, 2016; Delsoglio et al., 2019).
O gasto energético total (GET) é composto pela taxa metabólica basal (TMB), também conhecida como gasto energético basal (GEB); pelo efeito térmico dos alimentos (ETA) e pelo gasto energético com a atividade física (GAF) (Levine, 2004; Haugen et al., 2007; Avesani et al., 2014; Lam e Ravussin, 2016; Delsoglio et al., 2019; San Martin et al., 2020).
Em situações de equilíbrio energético a ingestão energética equivale ao GET. O desequilíbrio entre estes componentes pode levar ao ganho ou a perda de peso corporal. Quando a ingestão energética é maior que o GET, ocorre balanço energético (BE) positivo, favorecendo o aumento dos estoques energéticos. A situação oposta resulta em BE negativo e consequente depleção das reservas de energia (Rodrigues et al., 2008).
A TMB/GEB representa a quantidade mínima de energia necessária para o corpo humano manter os processos fisiológicos normais, incluindo as atividades metabólicas celulares básicas e as funções dos órgãos, como respiração e manutenção da temperatura corporal na ausência de ingestão recente de alimentos, atividade física e estresse psicológico (Haugen et al., 2007). Corresponde à energia gasta por um indivíduo em repouso na posição supina, pela manhã, após 8 horas de sono e 12 horas de jejum, sem exercícios físicos prévios por 24h, sob condições ambientais confortáveis (Kravchychyn et al., 2011; Oshima et al., 2017; San Martin et al., 2020). Desta forma, a TMB/GEB sofre mínima influência do ETA e do GAF (Volp et al., 2011).
A TMB/GEB pode sofrer variações individuais devido a diferenças em diversos fatores: idade, gênero, altura, peso, nível de atividde física, composição corporal, comorbidades, fatores genéticos, entre outros (Lam e Ravussin, 2016). Corresponde ao principal componente do GET, variando de 60% a 75% na maioria dos indivíduos sedentários (Levine, 2004; Volp et al., 2011; Avesani et al., 2014; Lam e Ravussin, 2016; San Martin et al., 2020; Achamrah et al., 2021).
Conforme descrito acima, as condições ideais para a estimativa da TMB/GEB raramente são atendidas, limitando a sua utilização na prática clínica, pois exige que o avaliado durma durante a noite na unidade metabólica (Volp et al., 2011). Em substituição, normalmente é utilizada a taxa metabólica em repouso (TMR), também denominada gasto energético em repouso (GER), para estimar o GET (Haugen et al., 2007; Oshima et al., 2017).
A TMR/GER corresponde à quantidade de energia utilizada por uma pessoa em 24h, avaliada em repouso aproximado de 15 a 30 minutos, em qualquer período do dia, 4 a 5 h após uma refeição leve, na posição sentada ou supino (San Martin et al., 2020). Estima-se que a TMR/GER possa ser 3-10% (Feurer e Mullen, 1986; Levine, 2004; Volp et al., 2011) ou 10-20% (Avesani et al., 2014) mais elevada do que a TMB devido à termogênese induzida pela alimentação e à influência de prática de atividade física recente. Vários fatores, incluindo composição corporal, peso, frequência cardíaca, idade, sexo, etnia, ciclo menstrual, tabagismo e ingestão de cafeína influenciam a TMR/GER em indivíduos saudáveis (Miller et al., 2013).
O GAF pode ser categorizado em termogênese de atividade relacionada ao exercício (depende se o indivíduo é sedentário ou fisicamente ativo) e termogênese de atividade não-exercício (corresponde a toda energia gasta com ocupação, atividades de lazer, posição sentada ou em pé, deambulação, etc.) (Levine, 2004). Ambas termogêneses variam amplamente de forma inter e intraindividual (San Martin et al., 2020). O GAF é o componente mais variável do GET (Lam e Ravussin, 2016), podendo oscilar de 15% em indivíduos muito sedentários (Levine, 2004; San Martin et al., 2020) até 50% em indivíduos altamente ativos (Levine, 2004). Durante a atividade física, a produção de calor aumenta, estando diretamente relacionada com o volume de massa muscular e com a intensidade do trabalho muscular (Kenny et al., 2017; Gomes e de Miranda Guedes, 2019; Achamrah et al., 2021).
O ETA, outro componente do GET, refere-se ao aumento do dispêndio energético observado após uma refeição e associado ao consumo dos alimentos. Corresponde ao custo energético da mastigação e digestão dos alimentos, absorção e metabolismo dos nutrientes (Lam e Ravussin, 2016; Oshima, et al., 2017). É um componente relativamente estável, representando aproximadamente 10% do GET (Levine, 2004; Avesani et al., 2014; San Martin et al., 2020), podendo variar de acordo com a composição, volume, horário de consumo e modo de preparo dos alimentos (Dias et al., 2009; Lam e Ravussin, 2016).
Métodos para estimativa do gasto energético
São utilizados vários métodos para estimar o GET, entre os quais a calorimetria, equações preditivas, métodos não restritivos tais como frequência cardíaca, diário de atividades e a técnica de isótopos estáveis (água duplamente marcada) (Volp et al. 2011; Lam e Ravussin, 2016). Estes métodos são baseados em princípios diferentes e não medem o mesmo tipo de energia (Kenny et al., 2017). A calorimetria e o método da água duplamente marcada são os métodos mais precisos para estimar as necessidades energéticas e são considerados métodos padrão-ouro (Volp et al., 2011).
O termo calorimetria deriva de duas palavras: do latim calor (calor) e do grego metrion (medir) (Kenny et al., 2017). Corresponde à parte da física que estuda os fenômenos relacionados às trocas de energia térmica. Essa energia em trânsito (transferida de um corpo para o outro) é chamada de calor metabólico. A produção de calor metabólico é expressa como caloria, enquanto a calorimetria se refere à medição da transferência de calor (Archizaet al., 2017; Kenny et al., 2017).
Existem dois métodos de calorimetria (direta e indireta) que são diferenciados pela forma de determinação da energia utilizada pelo metabolismo humano.
Calorimetria direta (CD)
A calorimetria direta é baseada na primeira lei da termodinâmica e nos pressupostos de estabilidade térmica e baixa capacidade de armazenamento de energia, na qual a energia gasta em todos os processos fisiológicos é finalmente dissipada como calor e, portanto, o gasto total de energia pode ser avaliado medindo diretamente a produção de calor (Haugen et al., 2007; Kenny et al., 2017; Oshima et al., 2017; San Martin et al., 2020).
Para a realização deste método, é necessário que o indivíduo esteja em uma câmara isolada do ambiente durante 24 horas, onde pequenas mudanças na temperatura podem ser detectadas com precisão (Diener, 1997; Archiza et al., 2017). Durante o processo é realizada a medição do calor total dissipado pelo corpo como resultado dos metabolismos anaeróbico e aeróbico (Kenny et al., 2017). Embora seja considerado um método padrão-ouro, pois os instrumentos são precisos e sofisticados, a calorimetria direta nunca teve aplicabilidade generalizada devido aos desafios técnicos e altos custos de operação e manutenção e, por isso, está disponível em poucos centros de pesquisa a nível mundial (Kenny et al., 2017; Oshima et al., 2017; Achamrah et al., 2021). Assim, atualmente este método tem aplicabilidade restrita, sobretudo, na validação da calorimetria indireta.
Calorimetria indireta (CI)
A calorimetria indireta respiratória ou simplesmente calorimetria indireta, surgiu desde que Lavoisier e Laplace, no final do século XVIII, chegaram à conclusão de que a quantidade de calor desprendida por um organismo tinha relação com a respiração, que se apresentava como uma combustão, bastante lenta, mas perfeitamente semelhante à do carbono (Archiza et al., 2017; Gomes e de Miranda Guedes, 2019). O método da CI estima a TMR/GER pela determinação do consumo de O2 por meio de um espirômetro e a produção de CO2 do organismo durante um período de tempo (Archiza et al., 2017; Oshima et al., 2017; Kenny et al., 2017; Mtaweh et al., 2018; Delsoglio et al., 2019).
Embora os métodos de CD e CI tenham limitações inerentes, ambas são técnicas valiosas para avaliar o GE. No entanto, é importante lembrar que esses métodos não avaliam o mesmo tipo de energia. Enquanto a CD mede a produção de calor que resulta das reações biológicas, a CI mede o consumo de O2 e a produção de CO2 que resulta destas reações (Archiza et al., 2017; Kenny et al., 2017; Oshima et al., 2017; Mtaweh et al., 2018; Delsoglio et al., 2019).
Princípios da Calorimetria Indireta
Os processos metabólicos em humanos resultam na produção de calor onde a taxa de produção de calor define o metabolismo energético (Archiza et al., 2017; Kenny et al., 2017).
A produção de energia deriva da conversão da energia que é liberada dos nutrientes (combustão biológica), através da oxidação dos substratos alimentares. Os nutrientes à base de carbono (ou seja, combustíveis) são convertidos em CO2, água (H2O) e calor na presença de O2 [substrato + O2 oxidação = CO2 + H2O + calor] (Haugen et al., 2007; Gupta et al., 2017; Mtaweh et al., 2018; Delsoglio et al., 2019; Gomes e de Miranda Guedes, 2019).
A energia química liberada dos substratos alimentares é armazenada nas ligações de macromoléculas (ex: glicogênio muscular e hepático) e ATP. Quando a atividade física e outros processos metabólicos são realizados, essa energia química é convertida em energia mecânica e calor durante os processos de oxidação. Em estado de repouso de termoneutralidade, a perda de calor do corpo é igual à produção de calor metabólico dos processos oxidativos no corpo (Kenny et al., 2017). A taxa de produção de energia é proporcional à taxa do consumo de O2.
A premissa básica da CI é medir a diferença nos teores de O2 e CO2 entre o ar expirado e o inspirado pelos pulmões durante o ciclo respiratório que, juntamente com a ventilação por minuto, permite quantificar o consumo de O2 (VO2 em L/min) e a produção de CO2 (VCO2 em L/min) (Haugen et al., 2007; Gupta et al., 2017; Kenny et al., 2017; Oshima et al., 2017; Delsoglio et al., 2019).
O VO2 (L/min) e o VCO2 (L/min) são posteriormente utilizados para calcular (estimar) a TMR/GER (kcal/dia) usando tradicionalmente a equação de Weir (Weir, 1949) modificada.
Equação completa de Weir
Produção de calor (kcal/min/dia) = [VO2 (L/min) x 3,941] + [VCO2 (L/min) x 1,106] – (uN2 (g/dia) x 2,17]
TMR/GER (kcal/dia) = produção de calor × 1440 min
O componente de nitrogênio urinário (uN2) é frequentemente excluído ao calcular o gasto de energia em decorrência da sua baixa expressividade energética durante a situação de repouso (Feurer e Mullen, 1986; Delsoglio et al., 2019). Assim, a equação abreviada é comumente aplicada para estimar o GER (Haugen et al., 2007; Gupta et al., 2017; Delsoglio et al., 2019).
Equação de Weir modificada
Produção de calor (kcal/min/dia) = [VO2 (L/min) x 3,941] + [VCO2 (L/min) x 1,106]
TMR/GER (kcal/dia) = produção de calor × 1440 min
Por esse método também é possível determinar o quociente respiratório (QR) ou índice de troca respiratória, que reflete a relação entre o VCO2 expirado e o VO2 consumido durante um período de tempo [QR = VCO2/VO2]. O QR possibilita identificar os principais substratos (lipídios, carboidratos ou proteína) ou a mistura de substratos que está sendo preferencialmente oxidada no momento em que o exame é realizado (Rodrigues et al., 2008; Avesani et al., 2014; Gupta et al., 2017; Delsoglio et al., 2019).
O QR pode ser dividido em QR não-proteico, que reflete a participação dos carboidratos e lipídios, e QR proteico, que representa a utilização de proteínas. A taxa de oxidação proteica é obtida pela determinação da quantidade de nitrogênio excretado na urina ou utilizando-se a constante de excreção de nitrogênio de 0,14 g/kg/dia (Jéquier et al., 1987; Jones e Schoeller, 1988; Diener, 1997).
O valor preciso da utilização de O2 varia ligeiramente dependendo do substrato metabólico predominante. Sob condições metabólicas padrão com função respiratória estável, a faixa de variação do QR em humanos é de 0,7 a 1, com 0,7 representando predominantemente a oxidação de lipídios, 0,8 a oxidação de proteínas, 0,85 a dieta mista e 1 a oxidação de carboidratos (Feurer e Mullen, 1986; Diener, 1997; Gupta et al., 2017; Mtawehet al., 2018). Durante o metabolismo de carboidratos, os volumes de CO2 produzido e de O2 consumido são equivalentes (são necessárias seis moléculas de O2, o que dá origem à produção de 6 moléculas de CO2), resultando em um QR = 1,0. Os lipídios possuem uma grande proporção da ligação carbono-hidrogênio em relação aos carboidratos, por isso produzem mais ATP na respiração. Logo, durante o metabolismo dos lipídios, há menos CO2 produzido para O2 consumido (QR = 0,7) (San Martin et al., 2020). Assim, dependendo do substrato oxidado, o valor de QR tende a variar.
Equipamentos de Calorimetria Indireta
O equipamento utilizado para medir o GE pelo método da calorimetria designa-se por calorímetro. De acordo com o princípio de funcionamento, os calorímetros são classificados em equipamentos de circuito “fechado” e de circuito “aberto” (Diener, 1987), sendo o segundo o mais utilizado (Mtaweh et al., 2018). Ambos são empregados para realizar medidas metabólicas de VO2 e VCO2.
- No circuito fechado, o avaliado é conectado a um sistema de válvulas direcionais no qual ele respira continuamente o ar com composição conhecida, vindo de cilindros/reservatórios, por meio do espirômetro. O VO2 pode ser determinado a partir das alterações volumétricas do sistema, durante a realização do exame (Diener, 1997; Dias et al., 2009; Kravchychyn et al., 2011; Archiza et al., 2017; Mtaweh et al., 2018). Embora ainda utilizados para estudos de calorimetria de pequenos animais, poucos equipamentos para uso humano empregam este princípio (Diener, 1997).
- Na forma de circuito aberto, ambos os extremos do sistema se comunicam com o ambiente. O avaliado é conectado e respira por uma válvula de duas vias. Por uma das vias é inspirado o ar ambiente, e pela outra o ar expirado é coletado por sensores de fluxo eletrônico e analisado por meio de software (Dias et al., 2009; Kravchychyn et al., 2011; Archiza et al., 2017; Kenny et al., 2017). Dependendo do modelo, dos acessórios e componentes utilizados, esses equipamentos podem realizar medições em indivíduos respirando espontaneamente através de máscara de silicone/neoprene, bucal e clipe nasal ou campânula ventilada (canopy), e também em pacientes que estão em ventilação mecânica, por meio de conexão de tubo endotraqueal ao ventilador (Diener, 1987; Achamrah et al., 2021; Byerly e Yeh, 2022).
Tradicionalmente os equipamentos de CI para respiração espontânea usam coletores de gases, incluindo campânula ventilada (canopy) com válvula unidirecional, que mede o volume e as concentrações de O2 e CO2 por minuto com o mínimo de desconforto para o avaliado (Rodrigues et al., 2008; Volp et al., 2011; Oshima et al., 2017). Importante salientar que vazamentos aéreos de gases respiratórios durante a realização do exame alteram a precisão das medições, bem como a falta de manutenção periódica do equipamento (Oshima et al., 2017). Em decorrência da sua complexidade e alto custo, esses equipamentos estão disponíveis principalmente em ambientes de internação e pesquisa e raramente no ambiente clínico (Dias et al., 2009; Oshima et al., 2017; Rattanachaiwong e Singer, 2019; Achamrah et al., 2021).
Com os avanços tecnológicos e o desenvolvimento de equipamentos portáteis a custos acessíveis, o método de CI tem sido cada vez mais utilizado nas áreas clínica e esportiva para aperfeiçoar o cuidado nutricional (Achamrah et al., 2021; Byerly e Yeh, 2022).
Alguns dispositivos simplificados de CI disponíveis comercialmente medem apenas o VO2 ou VCO2 para estimar o gasto de energia. Além disso, eles assumem um QR constante (por exemplo, 0,80-0,85) para todos os indivíduos (Haugen et al., 2007; Oshima et al., 2017). Estes dispositivos têm a vantagem da mobilidade e baixo custo, sendo aceitável em pessoas saudáveis com alimentação balanceada. Contudo, não são recomendados para pacientes hospitalizados uma vez que a oxidação do substrato pode mudar significativamente de acordo com o tipo de doença e nutrição (Oshima, et al., 2017).
Importante salientar que o calorímetro requer manutenção programada regularmente. A nova tecnologia facilitou o uso e a manutenção dos calorímetros indiretos. Os requisitos de manutenção são baseados no tipo de dispositivo e nas especificações do fabricante. A calibração é o aspecto mais importante da manutenção. Detectar um pequeno desvio na calibração pode ser difícil, mas pode afetar os resultados do exame de forma significativa (Rattanachaiwong e Singer, 2019).
Aplicações do exame de Calorimetria Indireta
A CI é um método não invasivo que demonstrou ser bem-sucedido na determinação do gasto de energia (TMR/GER), superando as limitações das equações preditivas e tornando-se o padrão-ouro em várias configurações (Volp et al., 2011; Rattanachaiwong e Singer, 2019; San Martin et al., 2020). Atualmente, é um método amplamente utilizado, especialmente em centros de pesquisa, tendo contribuído nos últimos dois séculos para os avanços no conhecimento e compreensão da nutrição e bioenergética, termogênese, metabolismo energético durante o exercício físico e em situações patológicas, entre outras (Kenny et al., 2017; Gomes e de Miranda Guedes, 2019).
A otimização do fornecimento de energia é um dos pilares do suporte nutricional (Achamrah et al., 2021). A literatura demonstra que mudanças no GE, em vários estágios da doença, podem revelar informações metabólicas ocultas que podem ser traduzidas em dados clínicos e têm o potencial de serem indicadores prognósticos e/ou alvos de tratamento (Dias et al., 2009; Kravchychyn et al., 2011; Rattanachaiwong e Singer, 2019).
A CI oferece uma abordagem com base científica para maximizar os benefícios da terapia nutricional com aplicação direta no planejamento e na monitoração da intervenção dietética, fornecendo informações personalizadas sobre mudanças no GE (Haugen et al., 2007; Dias et al., 2009). A avaliação do GE não apenas fornece uma opção para avaliar as necessidades nutricionais individuais, mas também corresponde a um atributo clínico capaz de subsidiar soluções claras que permitem ao nutricionista ajustar a prescrição calórica, bem como monitorar a evolução de dietas prolongadas em diferentes estágios de doença, contribuindo com impacto positivo do suporte nutricional (Haugen et al., 2007; Oshima et al., 2017; Delsoglio et al., 2019; Rattanachaiwong e Singer, 2019; San Martin et al., 2020; Achamrah et al., 2021; Byerly e Yeh, 2022).
Também é crescente a utilização da CI na prescrição e acompanhamento de treinamentos atléticos e exercícios físicos sistematizados, no intuito de se avaliar o consumo máximo de O2, e a partir deste predizer o grau de condicionamento físico dos indivíduos e prescrever exercícios físicos de forma personalizada (Kravchychyn et al., 2011).
Importância do Protocolo para realização do exame de Calorimetria Indireta
Independentemente do método de CI ser considerado padrão-ouro na predição do gasto metabólico, o protocolo para a realização do exame deve ser previamente definido, pois influenciará profundamente a acurácia dos resultados obtidos (Volp et al., 2011; Oshima et al., 2017). A avaliação é bem-sucedida quando um equipamento adequado é usado em condições ideais (protocolo) e os resultados são analisados por profissionais capacitados para individualizar o cuidado nutricional. Não seguir o protocolo resulta em resultados altamente variáveis e imprecisos.
Os procedimentos operacionais padrão dependem do equipamento utilizado, bem como dos propósitos da realização do exame. No entanto, as etapas abaixo são geralmente necessárias.
O equipamento deve ser ligado, no mínimo, 30 minutos antes da realização do exame, para aquecimento e estabilização adequados. Os analisadores de O2 e de CO2 devem ser calibrados com gás de concentração conhecida como referência antes de cada determinação e, periodicamente, validados conforme as especificações do fabricante (Dias et al., 2009).
O avaliado não deve ter praticado atividades físicas antes do exame (2h para atividades moderadas e no mínimo 14h para atividades vigorosas com atenção especial para treinamento cardiovascular e de força); deve estar em estado de repouso (pelo menos 15 minutos antes do início do exame); livre de estresse físico e psicológico; em ambiente termicamente neutro/confortável (temperatura onde a energia usada para a manutenção da temperatura corporal é mínima); em estado de jejum (pesquisas: abstenção de alimentos e bebidas por no mínimo 6 h antes do exame; prática clínica: 2 a 4 h); e em abstenção de nicotina por 2 horas. Essas medidas são importantes para minimizar o impacto do gasto de energia relacionado à atividade física, à termogênese induzida pela dieta e a outros fatores (Compher et al., 2006; Oshima et al., 2017).
Posicionar o avaliado e conectar os acessórios de forma adequada e realizar o monitoramento ao longo do exame, assegurando que não haja vazamentos nas conexões do circuito respiratório (Dias et al., 2009).
A duração total do exame de CI também é um fator importante (Achamrah et al., 2021). Em geral, o exame tem duração de 30 minutos, após os procedimentos necessários para calibração do sistema. A maioria dos procedimentos é iniciada após um intervalo de tempo predeterminado ou até que o “estado estacionário” seja atingido. O estado estacionário representa um período de “equilíbrio metabólico” e é definido por critérios mais rigorosos, como por exemplo, um intervalo de 5 minutos durante o qual VO2 e VCO2 variam menos de 10% ou o coeficiente de variação para esses dois valores é menor que 5% (Feurer e Mullen, 1986).
Ademais, é fundamental estabelecer no protocolo de exames procedimentos de higienização para todos os acessórios ou componentes do equipamento que entrem em contato com o avaliado.
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