Recomendações nutricionais para o período de quarentena da COVID-19

Em abril/2020 foi publicado na European Journal of Clinical Nutrition artigo sobre recomendações nutricionais para o período de quarentena da COVID-19.

Conforme destacado pelos autores, a quarentena pode estar associada à interrupção ou diminuição da rotina de trabalho, o que pode resultar em estado emocional entediante. Este estado emocional pode influenciar o comportamento alimentar com aumento do consumo e, consequentemente, maior ingestão de alimentos calóricos. Além disso, o excesso de informações à respeito da pandemia provocam ansiedade e estresse, podendo aumentar a busca por “confort foods” (alimentos de conforto, geralmente açucarados) e o “food craving” (desejo intenso por um alimento específico), englobando aspectos emocionais, comportamentais, cognitivos e fisiológicos.

O desejo intenso por alimentos ricos em carboidratos (“carbohydrate craving”) tem sido uma forma de recompensar o estresse, visto que pode aumentar a produção de serotonina, que por sua vez tem um efeito positivo no humor. Entretanto, o artigo ressalta que essa não é uma prática alimentar saudável, pois pode aumentar o risco de obesidade, que além se ser considerado um estado crônico de inflamação, aumenta o risco para comorbidades como doenças cardiovasculares, pulmonares e diabetes, doenças que demonstraram estar relacionadas com as formas mais graves da COVID-19.

Outra questão problemática, que tem sido frequente durante a quarentena, são os distúrbios do sono, que pioram ainda mais o estresse e aumentam a ingestão alimentar, gerando um ciclo vicioso perigoso. De acordo com o artigo, uma alternativa para minimizar esses problemas seria aumentar o consumo de alimentos que promovam aumento da síntese de serotonina (efeito positivo no humor) e melatonina (efeito positivo no sono) à noite. Alguns alimentos como vegetais, raízes, folhas e sementes (amêndoas, por exemplo), frutas (banana e cereja) e grãos (como a aveia) podem contribuir para esses efeitos. Esses alimentos também podem conter triptofano, que além de ser um precursor de serotonina e melatonina, está envolvido no controle da saciedade e ingestão energética. Leite e derivados são as principais fontes de triptofano que, além dos efeitos descritos acima, podem também reduzir o risco de infecções respiratórias pelo aumento de células imunológicas.

O estudo também destaca o risco de deficiência de micronutrientes e o impacto negativo nas respostas imunológicas, ressaltando a importância de cuidar dos hábitos alimentares, seguindo um padrão nutricional saudável e equilibrado, com consumo adequado de vitaminas e minerais, especialmente das vitaminas C, D, E e beta-caroteno, além de zinco.

Em conclusão, os cuidados com a alimentação devem ser priorizados neste momento de estresse gerado pela quarentena, mantendo a ingestão adequada de alimentos in natura como frutas, legumes e verduras, pois são ricos em vitaminas, minerais e outros compostos bioativos que podem fortalecer o sistema imunológico. Além disso, é importante planejar as refeições (estabelecer porções, horários e delimitar o tempo para comer) para construir uma rotina alimentar saudável durante a quarentena.

*Texto elaborado por Milena Martins (Aluna do curso de graduação em Nutrição da UFRJ e Bolsista de Iniciação Científica do LANUTRI) e revisado pelas Nutricionistas do LANUTRI.

Referência:
Muscogiuri G, Barrea L, Savastano S, Colao A. Nutritional recommendations for CoVID-19 quarantine. Eur J Clin Nutr. 2020 Apr 14. doi: 10.1038/s41430-020-0635-2. [Epub ahead of print]. Disponível em: <https://www.nature.com/articles/s41430-020-0635-2> Acesso em: 28 de abril de 2020