Alimentação em casa X Alimentação na rua

Nas três últimas décadas houve mudanças nos padrões alimentares da população brasileira, bem como nos locais de realização das principais refeições. O número de pessoas que realizam refeições fora do domicilio cresce progressivamente e esse novo perfil pode ser observado na comparação dos dados sobre gastos com alimentação que indicam que 31% do total de despesas foram destinados à alimentação fora do domicílio em 2008-2009 contra 24% em 2002-2003, com destaque para o consumo de bebidas alcoólicas e salgadinhos fritos e assados.

Paralelamente a estas mudanças de comportamento alimentar, podemos observar um aumento progressivo da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, especialmente obesidade e diabetes tipo 2, dentre outras. Diante destes dados nos perguntamos se há uma relação direta entre estes dois eventos e, conforme esperado, algumas pesquisas científicas apontam que sim!

Estudos comprovam que pessoas que se alimentam com comida caseira possuem menor incidência de diabetes e obesidade. Neste caso, o importante é que a comida seja preparada em casa, podendo perfeitamente ser levada para ser consumida nos locais de trabalho, estudo, lazer e outros. Nos tempos atuais, muitas vezes fazer as refeições em casa é algo impraticável em razão de inúmeros compromissos, porém, levar a própria comida de casa é uma opção mais saudável e economicamente mais viável!

O hábito de levar comida de casa também tem outras vantagens:

  • Preparando e porcionando a sua própria comida, você tem um maior controle da quantidade que está comendo. Muitas vezes, nos “pratos feitos” ou “empratados” a quantidade de comida é maior do que a que normalmente comeríamos, mas já que está ali no prato, acabamos comendo pra não desperdiçar. Na maioria das vezes, somos estimulados visualmente para comer mesmo não estando com fome. As pessoas tendem a comer mais que o necessário quando estão diante de grandes quantidades de alimentos ou quando há oferta de grandes porções e variedades de alimentos. Por esta razão, talvez um buffet self-service também não seja a melhor opção quando estamos com fome.
  • A comida caseira permite que você evite o consumo de uma grande quantidade de sódio e de alimentos processados e ultraprocessados que são tradicionalmente comercializados nas redes de fast food.
  • A comida caseira promove uma alimentação mais equilibrada nutricionalmente, quando comparada com as refeições e lanches rápidos feitos em fast foods.
  • Maior custo benefício. Dedicando um pouco de tempo para pesquisa de preços e compras de alimentos frescos da época em feiras livres, por exemplo, é possível pagar um preço justo por uma refeição muito mais nutritiva, com menores quantidades de aditivos alimentares e resíduos de agrotóxicos, e rica em compostos bioativos capazes de auxiliar na prevenção de várias doenças.
  • Pesquisas também apontam que as pessoas que cozinham sua própria comida tendem a fazer escolhas mais saudáveis quando vão a restaurantes.

Vale lembrar que cozinhar é uma atividade terapêutica, e que esta não é uma tarefa restrita apenas às donas de casa, qualquer pessoa é capaz de ir para cozinha e preparar uma ótima refeição! Tente envolver todos os membros da sua família nas rotinas de compras de alimentos e preparo das refeições, incluindo homens, mulheres, adolescentes e quando possível até as crianças. O ato de cozinhar deve ser um momento prazeroso, de convívio coletivo e saudável para todos. Cozinhar é um ato de amor para si e para o próximo!

Na hora de planejar sua marmita tente combinar os seguintes grupos de alimentos:

– Frutas, Legumes e Verduras

– Carnes, aves, peixes, ovos e/ou laticínios

– Cereais, preferencialmente integrais

– Leguminosas

Além da marmita tradicional composta por feijão, arroz, carne e legumes, é possível preparar também refeições mais práticas e leves e que podem ser consumidas frias ou em temperatura ambiente. São as “marmitas ou saladas no pote” que estão fazendo sucesso principalmente entre as mulheres.

Com criatividade é possível fazer inúmeros cardápios combinando:

1 fonte de proteína animal + frutas e hortaliças variadas + 1 fonte de carboidratos (vegetais C, cereais preferencialmente integrais como macarrão, arroz, trigo em grãos, cevada, quinua, amaranto, croutons, etc) + 1 tipo de leguminosa (feijões de diferentes tipos, lentilha, ervilha, grão de bico, soja) + outros grãos e sementes opcionais (linhaça, chia, castanha de caju, castanha do Pará, amêndoa, avelã, nozes, etc) + temperos (azeite, vinagre, suco de limão, mel, iogurte, sal, pimenta, ervas frescas e secas).

Inspire-se, use sua criatividade e cuide-se bem!

*Texto elaborado por Kinberly Alves F. Rodrigues   (Aluna do curso de graduação em Nutrição da UFRJ e Bolsista do LANUTRI) e revisado pelas Nutricionistas do LANUTRI.

Fontes de consulta:

BEZERRA, I. N. et al. Consumo de alimentos fora do domicílio no Brasil.Revista de Saúde Pública, v. 47, n. suppl. 1, p. 200-211, 2013.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamentode Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014.

MOREIRA, S. A. Alimentação e comensalidade: aspectos históricos e antropológicos.Ciência e Cultura, v. 62, n. 4, p. 23-26, 2010.

PROENÇA, R. P. C. Alimentação e globalização: algumas reflexões.Ciência e Cultura, v. 62, n. 4, p. 43-47, 2010.

WOLFSON, J. A.; BLEICH, S. N. Is cooking at home associated with better diet quality or weight-loss intention? Public Health Nutrition, v. 18, n. 8, p. 139