Dietas da moda, emagrecimento e saúde.

Atualmente percebemos aumento crescente de adeptos de dietas da moda como dieta sem glúten, dieta LowCarb, dieta LacFree, entre outras. Esse tipo de padrão alimentar está comumente associado à monotonia alimentar, restrições muito severas difíceis de aderir em longo prazo e sentimento de fracasso e frustração pela dificuldade de adesão.  Dietas restritivas podem desregular os mecanismos fisiológicos de controle da fome e saciedade, além de estresse e privação psicológica que podem desencadear episódios de descontrole e compulsão, podendo precipitar transtornos alimentares em pessoas suscetíveis ou colaborar ainda mais para o ciclo de perda-ganho de peso.

Dieta sem glúten

A única comprovação científica de que a retirada do glúten traz algum benefício para a saúde é em casos de indivíduos portadores de doença celíaca. Não há provas suficientes para supor que indivíduos saudáveis experimentariam quaisquer benefícios do consumo de uma dieta sem glúten. Inclusive, em relação a emagrecimento, dados epidemiológicos sustentam que indivíduos com doença celíaca e excesso de peso não apresentam perda de peso com adoção de dieta sem glúten.

Uma dieta sem glúten normalmente é pobre em cereais integrais e fibras, o que pode, inclusive, ocasionar ganho de peso, e pode ser prejudicial para a saúde intestinal. Ainda sobre a saúde intestinal, dados experimentais recentes mostraram possíveis efeitos deletérios da alimentação sem glúten sobre a microbiota intestinal em indivíduos saudáveis. Por causa da exclusão de alimentos que contém trigo, houve diminuição significativa na proporção das bactérias intestinais boas e nocivas.

Devido ao seu efeito prebiótico, pode-se afirmar que a ingestão de farinha de trigo integral por indivíduos não sensíveis ao glúten contribui para a redução no risco de câncer de intestino, doenças inflamatórias, dislipidemias e doenças cardiovasculares.

No entanto, também é importante notar que as dietas sem glúten podem ser saudáveis para a população em geral, desde que a retirada dos alimentos com glúten seja compensada pela ingestão de outros grãos integrais, e de hortaliças de baixa densidade energética. Isto não significa, no entanto, que a retirada do glúten seja responsável por qualquer um dos possíveis benefícios observados.

LowCarb

Os proponentes dessas dietas defendem que uma dieta rica em carboidratos deixa o indivíduo menos satisfeito, resultando em mais fome, maior ingestão de carboidratos e maior produção de insulina, o que inibiria a liberação de serotonina cerebral, que, por sua vez, aumenta o apetite.

A maior parte da perda de peso obtida nos primeiros dias com esse tipo de dieta se deve à perda de fluidos. Em longo prazo, as perdas são comparáveis com dietas convencionais, e há frequente reganho de peso acima dos valores perdidos.

É importante destacar que todas as dietas hipocalóricas independente da distribuição de macronutrientes, se sustentadas em longo prazo, levam à perda de peso. Entretanto, em curto prazo, as dietas cetogênicas, ricas em gorduras e escassas em carboidratos, causam maior perda de água do que de gordura corporal. Essas dietas são também frequentemente ricas em proteínas animais e deficientes em vitaminas A, B6 e E, folato, cálcio, magnésio, ferro, potássio e fibras, portanto, a suplementação pode ser necessária. Esse tipo de dieta pode ainda levar a halitose, dor de cabeça e litíase renal por oxalato, questionando-se a segurança cardiovascular do seu emprego em longo prazo.

Outros efeitos adversos das dietas pobres em carboidratos:

  • Aumento da concentração de ácido úrico;
  • Diminuição da glicemia e da insulinemia;
  • Aumento da gliconeogênese (formação de glicose a partir de aminoácidos e ácidos graxos) que leva à degradação proteica;
  •  Redução da betaoxidação no ciclo de Krebs devido à falta de carboidratos (fundamentais para queima de gordura);
  • Redução do HDL;
  • Perda de massa óssea;
  • Mau hálito;
  • Obstipação intestinal e/ou diarreia;
  • Tontura, fraqueza e fadiga;
  • Dificuldades cognitivas;
  • Sobrecarga renal devido ao excesso de proteínas na dieta;
  • Aumento do risco de mortalidade por câncer devido ao excesso de proteínas na dieta;
  • Reganho de peso em maior proporção que o que foi perdido.

LacFree

A alimentação sem lactose restringe o acesso a muitos alimentos. É uma dieta complicada de aderir, além de ser um padrão alimentar com maior dificuldade de atingir os teores de proteína, fósforo e cálcio necessários.

Além disso, de acordo com o informativo do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN) do dia 19 de setembro de 2012, a recomendação indiscriminada para restrição ao consumo de leite e derivados não encontra, atualmente, respaldo científico com nível de evidência convincente e está em desacordo com o Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar (2007).

O CRN ainda recomenda que a restrição ao consumo de leite e derivados deve ser feita somente por pacientes com diagnóstico clínico confirmado de intolerância à lactose, sensibilidade à proteína do leite (alergia à proteína do leite de vaca – APLV) ou de outras condições fisiológicas e imunológicas. A Instituição também ressalta que o diagnóstico clínico é de competência exclusiva do médico.

Os estudos epidemiológicos confirmam a importância nutricional do leite na dieta humana e reforçam o possível papel do consumo de laticínios na prevenção de várias doenças crônicas, doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer, obesidade e diabetes. Não há nenhuma evidência para apoiar o uso de dieta isenta de leite de vaca como um tratamento para sobrepeso e obesidade.

*Texto elaborado por Kinberly Alves F. Rodrigues   (Aluna do curso de graduação em Nutrição da UFRJ e Bolsista do LANUTRI) e revisado pelas Nutricionistas do LANUTRI.

Bibliografia consultada:

BRASIL. Conselho Federal de Nutricionistas. Código de Ética do Nutricionista. Resolução CFN nº. 334, 2004.

Parecer técnico nº 10/2015 do Conselho Regional de Nutricionistas 3ª Região (CRN3) sobre dietas sem glúten:

http://www.crn3.org.br/Areas/Admin/Content/upload/file-0711201575953.pdf

Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO). Diretrizes brasileiras de obesidade. – 4. ed. – São Paulo, SP: ABESO, 2016.

ALVARENGA, M. et al. Nutrição comportamental. Editora Manole, 2016.